29 Abril, Quarta-feira

Jantar | Tributo
a Maria de Lourdes Modesto

“Traços de uma Vida”, por Maria da Graça Pericão

Personalidade incontornável da nossa gastronomia, é autora da magnífica obra “Cozinha Tradicional Portuguesa”, a qual representa um notável contributo para a construção da narrativa sobre cozinha tradicional. Neste título, escreve Maria de Lourdes, “reencontramos a nossa identidade, a nossa maneira original de ser e de sentir – que se manifesta com toda a sua diversidade e exuberância no receituário tradicional”. A ementa do jantar, inspirada neste livro, é assinada pelo Chef Vitor Dias (Hotel Quinta das Lágrimas). Um ano depois de ter completado 90 anos de idade, prestamos tributo a Maria de Lourdes Modesto.

Hotel Quinta das Lágrimas
20h00
Preço: 30,00 €
Reservas 91 843 11 55
abrilnofeminino@gmail.com


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Caldo verde (Minho)
Migas à Alentejana (Alentejo)
Trilogia conventual (Beira Litoral)

“Curiosamente a cozinha não corresponde muito à forma de nos mostrarmos. É mais exuberante do que somos. Temos uma comida muito sápida, muito colorida. Poderá não ser muito estética, segundo os cânones actuais. Não gostava de dizer uma coisa que tenho de dizer… É uma cozinha viril. É uma cozinha que se impõe. E é de mulheres.” Maria de Lourdes Modesto

O livro “Cozinha Tradicional Portuguesa” conhece a sua primeira edição em Janeiro de 1982 e apresenta uma selecção de 800 receitas, agrupadas por regiões, incluindo os Açores e a Madeira. “Desde há vinte anos que me dedico a um lento mas emocionante levantamento do património culinário português. Lento, porque se nos deparam segredos a desvendar, relutâncias a vencer, variantes a ensaiar; tempos, misturas e doseamentos a experimentar. Mas levantamento emocionante, porque se revelam sabedorias seculares, usos, costumes e, sobretudo, imaginação que, as mais das vezes, nos fazem sentir o pulsar de uma vida, de uma família, de uma região, de um país”(…).

Maria de Lourdes Modesto (in “Cozinha Tradicional Portuguesa”).

Iniciou a sua carreira televisiva em 1958, quando, então professora de Trabalhos Manuais no Liceu Francês de Lisboa, foi convidada pela RTP para apresentar um programa de índole cultural (após uma notável prestação na peça de Molière Monsieur de Pourceaugnac, em cuja encenação estaria presente uma equipa da estação). Foi na televisão pública portuguesa que apresentou, ao longo de doze anos, o mais popular programa culinário de que há memória no país. O seu estilo particular, privilegiando o directo e o improviso (foi a pioneira portuguesa do “live cooking”) ganhou-lhe inúmeros admiradores. O sucesso do formato, que partia da sua paixão pela cozinha alentejana, levou-a a alargar horizontes e a estudar a culinária francesa e as tradições gastronómicas portuguesas. Escreveu vários livros de cozinha portuguesa, dos quais se destacam a Grande Enciclopédia da Cozinha, Cozinha Tradicional Portuguesa (o livro de culinária mais vendido em Portugal) e Receitas Escolhidas. O seu nome está ainda ligado à tradução e edição de inúmeras obras estrangeiras. Conhecida como “A Diva da Gastronomia Portuguesa”, foi colhendo honras e louros nos mais variados palcos. José Quitério aclamou-a como “uma das cada vez mais raras Guardiãs do Fogo”. O New York Times chamou-lhe, num artigo de 4 de março de 1987, “Portugal’s Julia Child”. Também Miguel Esteves Cardoso, na sua coluna Ainda Ontem, a louvou como “Uma das três grandes génios nascidas no século XX [em Portugal]". A 9 de junho de 2004 foi feita Comendadora da Ordem do Mérito.

Maria da Graça Pericão é Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde obteve também pós-graduação no Curso de Bibliotecário-Arquivista. Exerceu a sua atividade na Biblioteca Geral da Universidade (Secção de Reservados) e, mais tarde na Faculdade de Medicina. Simultaneamente e ao longo de 26 anos, lecionou as cadeiras de Livro Antigo e Conservação e Restauro na Faculdade de Letras no Curso de Especialização em Ciências Documentais. Regeu também as mesmas matérias na Universidade dos Açores. Desempenhou várias missões na área da sua especialidade, colaborando designadamente na organização de numerosas bibliotecas com fundos antigos (séculos XVI-XVIII) das quais se destacam as de cinco seminários diocesanos e o tratamento de fundos antigos pertencentes a instituições como a Biblioteca da Fundação Bissaya Barreto, o Instituto Português de Santo António em Roma, a Casa Cadaval (Muge), o espólio antigo da Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e do Arquivo Distrital de Bragança. Em várias deslocações ao Brasil, teve ocasião de elaborar o catálogo dos incunábulos e livros do século XVI de uma biblioteca particular em São Paulo. Proferiu palestras em variados pontos do país e no Brasil, versando os temas da História do Livro e da preservação do património bibliográfico, tendo publicado numerosos trabalhos nestas áreas.

Em 1987, (a primeira vez que abordou o tema da gastronomia portuguesa) procedeu (em co-autoria) à atualização da “Arte de Cozinha” de Domingos Rodrigues, o primeiro Livro de cozinha impresso em Portugal, cuja 1ª edição data de 1680, obra que viria a ser reeditada trinta anos depois ((Relógio d´Água, 2017). Uma vez aposentada e a par com outros trabalhos de investigação na área do livro antigo, a história da gastronomia passou a ser o foco das atenções, daí a publicação de um vocabulário gastronómico com o título “Do comer e do falar tudo vai do começar” (Relógio d´Água, 2015) em coautoria com Ana M. Pereira; encontra-se em provas o trabalho sobre um manuscrito de Francisco Borges Henriques datado de 1715, existente na Biblioteca nacional de Lisboa com leitura paleográfica e atualizada a publicar em breve acompanhado de um estudo prévio de Isabel Drumond Braga; ainda este ano vai ser publicado o segundo livro de cozinha impresso em Portugal curiosamente datado de 1780, (exatamente cem anos após a publicação da “Arte de Cozinha”) intitulado “Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha” de Lucas Rigaud. Outros dois projetos estão em curso na mesma área…

Vitor Dias nasceu em 1980 e é natural de Cantanhede. Ingressou na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, e no decurso da sua vida escolar, estagiou na Pousada Santa Marinha, em Guimarães e no Hotel Mercure, na Figueira da Foz. Concluído o curso, integrou a equipa do Hotel Quinta das Lágrimas, liderada pelo Chef Albano Lourenço, tendo como consultor o Chef Joaquim Koerper. A partir de 2006, foram vários os desafios profissionais, nomeadamente para chefiar a cozinha do Marialva Park Hotel. Regressa em 2008 ao Hotel Quinta das Lágrimas, assumindo o cargo de subChef, até 2015, data a partir da qual lhe é entregue a liderança da equipa.

Vitor Dias privilegia uma cozinha cuidada e criativa, respeitando a sazonalidade dos produtos, cuja origem maioritária é da própria região. No Restaurante Arcadas, tem como principal missão servir bem, surpreendendo o cliente com uma oferta original e apelativa. Um desafio diário que o anima a fazer mais e melhor, com entrega e paixão, num espaço único e com uma singular história.