15 Abril, Sábado , 15h00

Um nome para o que sou

de Marta Pessoa

*no final da sessão conversa com o público na presença da realizadora e da autora do texto

Entre 1947 e 1949, a escritora Maria Lamas percorreu o país para dar a conhecer a realidade em que viviam as mulheres portuguesas. O resultado deste périplo foi o livro “As Mulheres do Meu País”. Passados mais de 70 anos, a realizadora Marta Pessoa e a escritora Susana Moreira Marques procuram compreender que livro é este e o que nos pode dizer hoje. UM NOME PARA O QUE SOU é um filme sobre um livro e sobre o movimento que ele opera em nós quando o lemos.

Seminário Maior de Coimbra
Entrada livre sujeita à lotação da sala


UM NOME PARA O QUE SOU é um filme sobre o livro “As Mulheres do Meu País”.

Mas o que se filma quando se filma um livro? Setenta anos passados sobre a sua publicação, Marta Pessoa pede a Susana Moreira Marques, jornalista e escritora no Portugal dos anos 20 do séc. XXI, que se junte a ela na reflexão sobre a própria matéria e forma do livro e as leituras e significados que pode trazer na actualidade.

Em 1947/49, Maria Lamas foi alguém que se implicou na história das mulheres com que se cruzou, que reportou a sua realidade, que opinou, que interpelou, que confrontou, que quis ir mais fundo. Alguém que, por vezes, se entristeceu e quase sempre se revoltou.

Em 2021, diante da câmara, Susana Moreira Marques procura colocar-se no lugar de Maria Lamas e olhar para o lugar que as mulheres ocupavam antes e ocupam hoje.

Uma escritora olha para outra escritora. Uma mulher e outra mulher. Mais de setenta anos as separam. O livro é o mesmo, na sua desmesura.

O que este documentário propõe então, enquanto gesto fílmico, é um diálogo, um jogo de olhares. Há o olhar de Maria Lamas sobre as mulheres, o olhar da escritora sobre Maria Lamas e o livro, e o olhar da realizadora (do filme) que se envolve e simultaneamente observa todo este processo. Há as imagens e as palavras, de antes e de hoje.

FICHA TÉCNICA

Título Português: Um nome para o que sou
Título Inglês: A name for what I am
2022, Portugal, Doc, Cor, 116’
Realização e Imagem: Marta Pessoa
Texto e Narração: Susana Moreira Marques
Som e Montagem: Rita Palma
Montagem de som e misturas: Miguel Lima
Correcção de cor: Aurélio Vasques
Produtores: Rita Palma, Marta Pessoa e João Pinto Nogueira
Produção: Três Vinténs

Marta Pessoa (n.1974) é licenciada em Cinema (ESTC/IPL) e tem o Mestrado em Ciências da Comunicação (FCSH/UN). Realizou, entre outros filmes, as curtas-metragens Dia de Feira (2004), Alguém Olhará Por Ti (2005), Manual do Sentimento Doméstico (2007), Bolor Negro (2015), os documentários Lisboa Domiciliária (2009), Quem Vai à Guerra (2011) e O Medo à Espreita (2015) e a longa-metragem de ficção Donzela Guerreira (2020). Em 2013, formou a produtora Três Vinténs juntamente com Rita Palma e João Pinto Nogueira.

Susana Moreira Marques

(n. 1976) É autora dos livros de não-ficção literária Agora e na hora da nossa morte (traduzido para inglês, francês e espanhol) e Quanto tempo tem um dia. O seu trabalho tem sido publicado em revistas como Granta, Tin House e Literary Hub, e em meios de comunicação como Público, Antena 1, Jornal de Negócios, BBC World Service e Mensagem. Também escreve para televisão e cinema, mais recentemente para o documentário Um nome para o que sou (2022), de Marta Pessoa. Vive em Lisboa com as duas filhas.

https://vimeo.com/699518059

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“Comprei uma máquina fotográfica muito rudimentar. Tinha a minha máquina de escrever. Passei dois anos a viajar. O meu sistema de trabalho era este: tinha um mapa de Portugal dividido por regiões. Comecei pelo Norte. Partia, estava duas, três semanas, o que era preciso. Andei de comboio, de camionete, de carro de bois, de burro, a pé… Eu recolhia os elementos e vinha a Lisboa. Descansava da viagem, que aquilo era muito violento! Estava em Lisboa o tempo indispensável para escrever, coligir, todos os apontamentos que eu trazia. E partia imediatamente. E assim foi de Norte a Sul. (…) Foram os dois anos mais ricos, interiormente, da minha vida. E as minhas forças parecia que eram inesgotáveis. Eu era mais nova, muito nova ainda… Relativamente, tinha mais de 50 anos, mas também foram dois anos que marcaram a minha vida.”
Maria Lamas em entrevista radiofónica, 1975

Ao lançar-se na escrita de “As Mulheres do Meu País”, Maria Lamas queria dar a conhecer a verdadeira situação das mulheres em Portugal. O livro é um gesto político.

Maria Lamas foi uma “antropóloga empírica”, cujo critério foi o de olhar e considerar a realidade que se apresentava a partir de si mesma, de quem era. O livro foi escrito entre 1947 e 1950. O seu género e formato, mas sobretudo a sua dimensão e o tema, tornam-no um caso raro, senão único, entre as publicações da época. Também o facto de ter sido um projecto pessoal da sua autora, que tomou em mãos não só a escrita em si, mas também o processo de publicação e venda, o destacam do panorama que o enquadra. Para a sua publicação, a escritora constituiu a empresa “Actuális, Lda” em sociedade com Manuel Fróis de Figueiredo e a filha deste, Orquídea, em Lisboa. A obra começou por ser publicada em 15 fascículos mensais de 32 páginas. O primeiro foi publicado em Maio de 1948 e o último em Abril de 1950. O volume final, de 471 páginas, foi vendido em assinaturas e pago antecipadamente para custear a edição e despesas de Maria Lamas durante o processo de escrita. O livro-álbum completo, uma edição de luxo, foi publicado em Maio de 1950. A única reedição do livro foi feita em 2002 pela Editorial Caminho. A edição está hoje esgotada.

Maria Lamas, escritora, ensaísta, jornalista, nasce em 1893, em Torres Novas.

Casa jovem, em 1911, e acompanha o marido a Angola. Divorcia-se em 1919 e volta a casar, mas a união dura pouco. Têm três filhas a seu cargo. Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais. Em 1929, entra para o jornal “O Século”, onde dirige o suplemento feminino Modas & Bordados.

Em 1945, é eleita para a presidência do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e, em 1947, organiza a exposição “Livros Escritos por Mulheres”, que será a gota de água numa série de “provocações” ao regime ditatorial. No espaço de poucos meses é forçada a deixar a direcção do Modas & Bordados e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas é encerrado. Aos 53 anos, desempregada e sem meios de subsistência, decide escrever “As Mulheres do Meu País”, com a ambição de dar a conhecer a verdadeira condição da mulher portuguesa. Em 1949, faz parte da Candidatura do General Norton de Matos e da Comissão Central do MND. É presa pela PIDE, pela primeira vez, em 1950. Viverá entre a prisão e viagens/exílios, numa crescente actividade política. Em 1962, parte para Paris, para um exílio que se prolongará até Dezembro de 1969. Regressada a Portugal, aos 76 anos, é recebida com grande entusiasmo e reconhecimento pelo seu trabalho de oposição à ditadura. Morre em 1983, aos 90 anos.