Da terra para a mesa

Começámos a programação com uma pergunta curiosa: Uma couve acaso tem beleza? As fotografias de Bárbara Marques são uma resposta clara e não deixam margem para dúvidas, revelando o “admirável mundo novo dos vegetais”. Fazendo uso de uma composição fotográfica cuidada e criativa, os produtos hortícolas ganham vida e uma dignidade que o jogo de luz enaltece. Couve, alface, batatas, alho, espinafres, meloa, abóbora, maçãs, cogumelos, romã, são protagonistas de imagens cénicas, delicadas e poderosas, que interpelam o nosso olhar, exibindo as suas cores e formas singulares, quase sempre por nós ignoradas na voragem do quotidiano.

A partir daquela pergunta desafiante, pensámos em duas actividades paralelas: uma palestra, conduzida por Pedro Miguel Ferrão, com o seu habitual rigor e competência, intitulada “Da vida dos vegetais. Uma história da natureza-morta”; uma conversa com Olga Cavaleiro, a que chamou “O conto da couve, fios de luz e de sombra”. Na primeira, falou-se sobre a origem da pintura com naturezas-mortas, a sua evolução e representatividade no decurso do tempo. Observámos a ilusão do real ou a sua imitação, onde imperam mesas fartas, frutas e flores, legumes, doces e iguarias requintadas. Entre a representação e a sugestão, pinturas “que são poesia muda” assinadas por grandes nomes da história da arte. Na segunda, Olga Cavaleiro falou-nos da couve enquanto elemento de aconchego e colo, na longa aventura alimentar das comunidades. Profunda conhecedora do Portugal gastronómico e fascinada pela singularidade das cozinhas regionais, partilhou com o público saberes e tradições, e não faltou no fim, para encanto dos presentes, a degustação de folares e broa de milho, cozinhados no aconchego da couve. Uma delícia!

Veja aqui algumas imagens. Créditos de Marisa Martins.

Tudo aconteceu no Museu Nacional de Machado de Castro. Na inauguração da exposição tivemos a presença de produtores locais (Cesto d’Alice, Quinta dos Sardões e Super Local) e ainda os arranjos florais com frutas e legumes com assinatura de Célia Marques, da Arte&Flor.

A exposição poderá ainda ser visitada até 28 de Maio, de terça a domingo. A não perder!